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Sismos em Portugal: "É urgente criar um regulamento para a reabilitação urbana para evitar desastres maiores"

João Appleton é um dos 13 especialistas que subscreveu o alerta sobre as falhas de reforço anti-sísmico na reabilitação urbana que se faz em Portugal, enviado ao ex-Presidente da República, Cavaco Silva, que "caiu em saco roto". Em entrevista ao idealista/news, o engenheiro civil pede aos novos governantes do país para que"não percam nem mais um dia e adoptem uma política sistemática de abordagem do património construído". O objetivo é simples: minimizar os efeitos de um sismo de grande magnitude e violência como o de 1755 em Lisboa, que "com certeza vai voltar a acontecer em Portugal".

Temos um Governo novo, um Presidente da República novo, que mensagem, enquanto especialista, passaria para transmitir que há algo de muito urgente e crítico a fazer para proteger Portugal dos sismos?

Eu diria: não percam nem mais um dia e comecem a definir hoje uma política sistemática de abordagem do património construído, criando, por exemplo, os mecanismos para que quando se faça uma reabilitação de um edifício se inclua obrigatoriamente uma verificação sísmica.  

É preciso criar um regulamento para a reabilitação, porque os técnicos portugueses adoram os regulamentos e quando não os têm sentem-se perdidos, sentem-se órfãos.

“É preciso criar um regulamento para a reabilitação, porque os técnicos portugueses sentem-se órfãos assim”

Em Portugal não vivemos de acordo com um comportamento cívico ideal. Precisamos de legislação, precisamos que nos obriguem.

Mesmo sabendo que resolver os problemas da segurança sísmica de uma cidade como Lisboa pode demorar 30, 40 ou 50 anos, não percam mais um dia, porque quanto mais tempo nos atrasarmos a varrer a cidade de Lisboa toda em termos da verificação da sua segurança sísmica, mais provável é que haja um acidente de grandes proporções no caso da ocorrência de um sismo.

Os anteriores políticos nunca fizeram nada perante os avisos dos especialistas...

Acho que a muita gente não interessava a existência de regras imperativas para garantir a segurança sísmica do edificado, porque os grandes proprietários, os bancos, as seguradoras, não estavam interessados em que isso fosse para a frente, porque isso implicaria uma revisão, em baixa, do valor de muito imobiliário que hoje é transacionado como se fosse a coisa mais saudável.

“A muita gente não interessa regras imperativas de segurança sísmica, porque isso implicaria uma revisão, em baixa, do valor de muito imobiliário transacionado como se fosse saudável”

 

Há lobbys do lado contrário?

Só posso compreender dessa maneira, porque para o poder político até era uma flor, apresentar uma legislação avançada que estabelecesse um conjunto de exigências, como aquelas que se estabelecem para a eficiência energética.

Considera-se que é muito mais importante, hoje em dia, saber se uma casa gasta muita ou pouca energia do que saber se ela é segura ou não do ponto de vista estrutural e particularmente do ponto de vista sísmico. Isto é o maior contrassenso que existe, porque a estrutura é o garante da sobrevivência do todo, e então do que é que serve ter umas janelas com um isolamento fantástico se elas caírem com um terremoto? Não serve para nada.

Aquilo que nós técnicos desejamos é que, em relação aos sismos, houvesse qualquer coisa semelhante e uma preocupação semelhante à que existe com a certificação energética.

Fonte: idealista | Autor: Tânia Ferreira